Por: Thays Moreno
04/09/2022 – São Paulo -SP
Atualizado em 18/11/2023
A patinação traz inúmeros benefícios para o praticante, ela é um exercício completo, quando praticada de forma regular tem efeito no desenvolvimento do cérebro e aumenta as funções cognitivas. Ela estimula o equilíbrio físico e mental, também melhora os reflexos e a flexibilidade.
Existe o lado esportivo da patinação, com suas modalidades como a patinação artística, de velocidade, hockey inline e quad, agressive, street, downhill, slalom. Para cada modalidade existem competições e campeonatos que celebram os melhores patinadores das suas áreas.
Grupo de patinação Windy City Skaters
Fonte: Windy City Skaters (2023)
Apesar de toda a sua complexibilidade esportiva, a patinação pode ser apenas uma atividade de lazer, uma simples forma de reunir os amigos em parques, praças e ruas e deslizar de maneira suave, aproveitando cada brisa, cada momento, compartilhando a felicidade de estar junto a pessoas que tem a mesma paixão pelas rodinhas, essa é a melhor definição de patinação de recreação.
Quando pensamos em “Patinação Inline” a primeira imagem quem vem a nossa cabeça é a logomarca da Rollerblade, que foi a primeira empresa a viabilizar comercialmente os patins inline em meados da década de 80 e cujo nome virou sinônimo de patins em linha. Ainda que essa seja a lembrança mais forte, temos que revisitar a história e descobrir que patinação Inline é muito mais antiga que a trajetória dessa icônica corporação.
Grupo de patinação Windy City Skaters
Fonte: Windy City Skaters (2023)
As primeiras tentativas de se criar patins koi sobre roda tiveram como base uma estrutura em linha, isso era muito natural porque a referência era o patins de gelo, mais antigo e sempre teve uma estrutura central. A primeira referência que encontramos remete à Holanda, no início do século XVII, quando um desconhecido decidiu patinar no verão, ele realizou a patinação em terra seca pregando carretéis de madeira em bases e prendendo-os aos seus sapatos.
Os primeiros protótipos de patins sobre rodas tinham esse foco, de uma estrutura central e alguns deles adaptaram a ideia similar de ter como base uma bicicleta, invenção de 1818 que foi concebida em Paris. Essas ideias saíram do papel como equipamentos de locomoção urbano, contudo esses protótipos de patins eram grandes, difíceis de serem controlados e nada agradáveis aos olhos.
Primeiros protótipos de patins com base em bicicletas
Fonte: Blog Patins.com.br (2022)
A primeira patente de um patim de roda foi pedida por um francês de nome Petitbled no ano de 1819, como conceito eles se aproximavam muito dos atuais “Patins Inline”. O ponto negativo é que esses patins não eram muito manobráveis e não podiam ser usados por muito mais do que uma curva larga ou uma linha reta. Eles tinham a sola de madeira, com rodas também de madeira dispostas em linha reta.
Por dezenas de anos, muitos inventores tentaram aperfeiçoar o modelo dos patins em linha, contudo não havia materiais e tecnologias disponíveis que fizessem com que esses patins tivessem a mesma leveza e facilidade de domínio, que os patins de gelo permitiam. Mesmo assim de 1819 a 1863 os patins “Inline”, ainda que bastante arcaicos, dominaram a cena da patinação.
Projeto de Patins Rolito de 1823
Fonte: Sutori (2022)
Ao mesmo tempo que a criação de um patim Inline não engrenava totalmente, a patinação sobre rodas tradicional passava a dominar a cena a partir de 1863, quando o americano James Plimpton patenteou um novo design de patins. Ele era similar aos patins quad moderno e o seu grande diferencial era ter uma base flexível, que permitia o patinador se inclinar para direcionar os patins. Isso aumentou muito a manobrabilidade do novo modelo.
A criação de Plimptom popularizou o esporte e permitiu que milhares de pistas de patinação fossem criadas pelo mundo afora. Eram grandes espaços de rica convivência, com os patins quad dominando o espetáculo. Os fabricantes de patins concentraram a sua produção no modelo e todas as pistas eram baseadas no patim tradicional.
A popularidade do esporte transcendeu as pistas indo para o dia a dia da população, em vários filmes Charles Chaplin utilizou a patinação como pano de fundo para as suas produções. Um bom exemplo disso é o filme de 1916 “The Rink”, na comédia Chaplin é um garçom que acaba gerando uma grande confusão, em uma festa sobre patins.
Cenas de filme “The Rink” de 1916 protagonizado por Charles Chaplin
Fonte: Studhistoria (2022)
Enquanto a patinação quad crescia vertiginosamente, as tentativas de se criar patins inline caíram no esquecimento. Poucos empreendedores tentaram resgatar os patins, que tinham como base a sua estrutura central, essa realidade durou até meados de 1960.
No ano de 1966 Gordon Ware então diretor da CRS (Chicago Roller Skate), o principal fabricante de patins dos Estados Unidos, projetou pessoalmente um novo par de patins em linha (estilo hockey) que chegou a ser patenteado. Infelizmente, o conceito foi considerado muito à frente de seu tempo, e rapidamente o projeto foi engavetado.
Protótipo de Patins em linha da CRS de 1966
Fonte: Roller Skate Museum (2022)
Após essa tentativa da CRS, a história da patinação continuou sendo vinculada aos patins quad, tendo o seu melhor momento de 1979 a 1984, quando ocorreu aquela que é considerada a maior febre da patinação sobre rodas. Houve uma simbiose perfeita entre a disco music das discotecas e a leveza dos patins. No meio dessa explosão mundial da patinação tradicional, ocorreu o início da história da patinação inline.
O ano era 1981 Scott Olson, um jogador de hockey no gelo, que buscava uma forma de treinar na temporada de verão, soube de uma patente de um patim inline de 1966 da CBS. Nesse mesmo ano ele viajou para Chicago e negociou a compra da patente, com os diretores da Chicago Roller Skate. De posse da propriedade ele começou a criar alguns protótipos até que em 1983 nasceu a Rollerblade.
Patins Inline da Rollerblade da década de 80
Fonte: Landskaters (2022)
Ao mesmo tempo que a patinação tradicional perdia força no mundo todo, nos Estados Unidos, a empresa Rollerblade se consolidava como a primeira fabricante de patins Inline. Depois de alguns protótipos iniciais que fracassaram, a empresa acertou o rumo com modelos mais leves, confortáveis, resistentes e mais fáceis de manobrar.
Podemos dizer que os patins Inline já foram concebidos para a prática da recreação, a partir do momento que eles nasceram para serem utilizados externamente. Essa nova modalidade se encaixava perfeitamente nas ruas praças, parques, orlas e qualquer lugar aberto onde se pudesse praticar o esporte. O único objetivo era o lazer, a satisfação pessoal de deslizar quase sem atrito, por entre espaços, os mais diversos possíveis.
Casal Patinando Inline em 1994
Fonte: The globe and mail (2012)
Essa nova modalidade de patinação passou a ganhar bastante visibilidade, se fortaleceu na segunda metade da década de 80 e início dos anos 90, de forma tal que em meados dos anos 90 eclodiu uma nova onda com pistas de patinação, dessa vez utilizando os patins Inline. Assim como a primeira febre de patinação do início dos anos 80, essa nova onda começou pelas capitais e se alastrou por todo o País.
Em São Paulo havia várias pistas com a nova modalidade, algumas delas eram a Ocean Drive, Rock & Roller, Rollerbrothers que ficava na Rua Moisés Kauffmann 341, Barra Funda, Yo Rollers na Rua dos Missionários 261, Santo Amaro e a Prestigie na Rua Schilling, Vila Hamburguesa. A diferença dessa nova febre é que algumas dessas pistas vinham acompanhadas de Rampas e Half pipe que permitiam que os patinadores pudessem efetuar diversas manobras.
Informativo da Rollerbrothers em 1955
Fonte: Alberto Arakaki (2015)
Não foi um período de tanta efervescência, quanto a “febre” da patinação do início dos anos 80, mas teve o seu papel na história por sacramentar a patinação inline como um esporte que veio para ficar. Foi também nesse período que cresceu a sua variedade tal como a patinação de velocidade, hockey inline, e o vertical, modalidades que continuam forte até os dias de hoje.
Na segunda metade dos anos 2000 a maior parte dessas pistas tinham fechado, mas o legado havia ficado, a patinação inline estava enraizada na cultura do esporte. Desde então o esporte passou por altos e baixos, mas a paixão pelas rodinhas enfileiradas continuou arrebatando adeptos pelo mudo afora.
A importância da patinação de recreação inline é que ela é a porta de entrada para o esporte, é a forma mais pura de lazer, sem objetivos de competição apenas patinar por diversão. O sentimento de liberdade que a patinação proporciona é único, poder deslizar por entre ruas, parques orlas ou mesmo em pista de patinação, nos traz uma prazerosa sensação de bem estar.
Patins de Recreação Macroblade
Fonte: Rollerblade (2022)
Outro aspecto importante na patinação de recreação é o fato que, além de poder ser praticada individualmente, ela é muito convidativa para ser compartilhada em grupos. Em uma rápida visita a parques é comum vermos família patinando juntos, é muito prazeroso dividir essa atividade de lazer com quem amamos.
Família patinando juntos
Fonte: Fila skates (2022)
Outro movimento que tem se fortalecido ultimamente é a criação de inúmeros grupos de patinação pelo Brasil afora. De norte a sul vemos grupos de inline que são concebidos com a pura finalidade de lazer tais como; o Inline Friends de Fortaleza (CE), Roller Maníacos de Londina (PR) ou o Ipatinga Inline, grupo formado em 2016 por patinadores da região do vale do aço em Minas Gerais.
Grupo Patins Ipatinga Inline
Fonte: Traxart (2022)
Hoje em dia, vemos pessoas mais velhas começando a aprender a patinar e isso é maravilhoso porque a patinação não é restrita apenas aos mais jovens, patinar é um exercício completo para todas as idades. A prática do esporte traz inúmeros benefícios, não apenas aqueles mais imediatos como condicionamento físico e até perda de peso, mas também outros benefícios para todo o corpo.
Segundo especialistas patinar pelo período de uma hora corresponde a queimar 500 calorias, isso ajuda na queima da gordura e na diminuição do peso. A patinação de recreação por ser uma atividade de baixo impacto exige menos do corpo, é uma atividade menos traumática para as articulações, preservando as cartilagens dos tornozelos, joelhos e quadris. Isso ocorre porque a patinação tem um movimento fluido e contínuo.
Outros estudos têm demonstrado que a patinação proporciona um treino aeróbico completo, ele envolve todos os músculos do corpo, especialmente o coração. A patinação equivale a uma corrida em termos de benefícios para a saúde e o consumo calórico contribui para redução da gordura corporal e desenvolvimento da força nas pernas e nos glúteos.
Patinadores Inline em um parque
Fonte: Skatefresh (2022)
A patinação é um exercício completo, quando praticada de forma regular tem efeito no desenvolvimento do cérebro e aumenta as funções cognitivas. segundo estudo realizado na Universidade de Massachusetts, a patinação causa menos de 50% do choque de impacto nas articulações em comparação com uma corrida.
De acordo com a American Diabetic Association (ADA), a patinação também ajuda no controle dos níveis de insulina no sangue em pacientes diabéticos. Ela previne e controla a diabetes na medida que diminui a glicose no sangue, alivia o estresse e mantém os níveis de colesterol no corpo. Portanto a atividade se mostra um excelente gerenciador da diabetes.
A Patinação estimula o equilíbrio físico e mental, também melhora os reflexos e a flexibilidade. Por ser uma modalidade de entrada na patinação ela pode ser praticada como um hobby, uma forma de deslocamento da casa para o trabalho, ou uma atividade física praticada em clubes, com o intuito de manter a forma.
Patinadores Inline em um parque
Fonte: Skatefresh (2022)
À medida que a patinação desafia o equilíbrio ela acaba envolvendo muito dos músculos. Tentar manter o controle sobre rodas instáveis exige que o abdômen se estabilize, reaja e se adapte a estímulos variáveis à medida que a pessoa se movimenta. Enquanto isso a coluna o abdômen e os músculos da região lombar desempenham um papel importante em manter a pessoa ereta.
Muito se falou dos benefícios físicos que a patinação de recreação nos traz e eles são reais e importantes, mas além desses benefícios a patinação também faz muito bem à nossa mente. O esporte é uma importante ferramenta para combater o estresse do dia a dia, aliado à uma música agradável ele se torna uma ponte para outra dimensão.
Em resumo, a patinação de recreação é extremamente positiva para o nosso corpo e a nossa mente, e esse é um dos motivos do seu crescimento durante a pandemia do Corona Vírus, momento em que o psicológico de todos nós foi muito testado. O esporte se mostrou uma excelente válvula de escape para o cenário tenebroso pelo qual passamos.
Por último e mais importante dos itens, temos que falar sobre os equipamentos de proteção, que são fundamentais para a prática da patinação de recreação. Começando pelas fundamentais Joelheiras e cotoveleiras, que devem ser de materiais acolchoado e com uma superfície frontal resistente a impactos. A proteção de punho e capacetes complementam esses equipamentos. Somente com a utilização desses itens podemos patinar com o prazer a segurança de que não encontraremos nenhuma pedra pelo caminho.
https://www.backstal.com/modalidades
https://en.parisinfo.com/what-to-do-in-paris/info/guides/Rollers-Coquillages,-rollerblading-in-Paris
https://www.filaskates.com.br/post/2016/12/05/equipamento-de-prote%C3%A7%C3%A3o-faz-parte-da-patina%C3%A7%C3%A3o
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https://www.linkedin.com/pulse/how-choose-best-recreational-inline-skates-nicole-lo
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https://www.madeinchicagomuseum.com/single-post/chicago-roller-skate-co/
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